Durante o show, Sandro homenageou diversos ícones do samba e do carnaval gaúcho, que receberam uma placa das mãos do cantor. Lá estavam Jajá, Paulão, Wilson Ney, Cláudio Barulho, Odir Ferreira, Cláudio Brito, Mestre Nilton, Maurício Nunes, Ademir Moraes (Urso), Giró, entre outros baluartes do samba.
Além disso, subiram ao palco como convidados para interpretarem belíssimas canções os músicos Lu Astral, Nego Edu, Alexandre Belo e Cláudio Barulho. O público permaneceu firme até às 23h30, cantando e vibrando com o espetáculo.
Sandro Luiz Amaral Ferraz nasceu praticamente no natal de 1969, em Pelotas, filho de Maria Helena Amaral da Silva e Orimes Ferraz. Sandro ainda era um bebê quando a família se transferiu para Porto Alegre. Sua história se confunde com a própria história do samba e do carnaval porto-alegrense, pois foram seus familiares os fundadores da Academia de Samba Praiana, onde sua mãe, Maria Helena foi porta-bandeira e seu pai, Orimes, foi o último presidente campeão pela Praiana, em 1976.
Foi na Praiana que Sandro Ferraz iniciou sua carreira na música, na condição de ritmista da bateria da Escola. Também foi a Academia de Samba Praiana que abrigou a família de Sandro Ferraz. Abrigou sim, no sentido literal. Vítimas de uma enchente que os deixou sem ter onde morar, a família foi socorrida na quadra da Praiana, mais especificamente na bilheteria da Escola.
O Partenon é ponto de referência da família Ferraz. Eles moraram em diversas partes do bairro sempre em condições bastante humildes. Dona Maria Helena era cozinheira do Restaurante Universitário da UFRGS, enquanto seu Orimes, como o próprio Sandro Ferraz define, era um “bon-vivant”. Seu Orimes foi funcionário da antiga Caixa Econômica Estadual, foi estivador e também jogador de futebol profissional, mas acima de tudo foi alguém que soube viver muito bem.
Pelo envolvimento de toda a sua família com o samba, Sandro Ferraz cresceu respirando carnaval. Até mesmo suas brincadeiras de criança tinham relação com a música. Na adolescência, Sandro Ferraz fez parte de um grupo chamado “Invasão à domicilio”, na Vila CEFER, Ipê e região. Suas primeiras parcerias eram o Silvio, o Jonas, o Gerson.
E foi através desses primeiros companheiros musicais que Sandro Ferraz conheceu outros músicos que lhe influenciaram, como por exemplo o
Kaubi, o Sandrinho, o Tiganá, o Fininho (Garotos da União) que eram na época eram jovens que gostavam de fazer samba. Isso tudo ocorreu à partir de 1986. É nessa época que ele começa a falar de música com um olhar mais profissional. É a época que Kaubi começa a tocar violão 7 cordas, herança de seu pai. Fininho tocava cavaquinho e Sandro Ferraz tocava repique de mão, mas já gostava de cantar, embora não soubesse que tinha potencial para isso.
Quando questionado a responder sobre isso, Sandro Ferraz sempre dizia que só gostava de cantar samba enredo. E, foi tocando repique de mão que Sandro Ferraz foi ser membro do Grupo Flor de Ébano. Nessa época é que o samba começou a ser chamado de pagode para abrir portas no mercado da música.
A rapaziada do Flor de Ébano gostava de samba de raiz e era isso que eles tocavam. E tocando repique de mão e interpretando algumas canções, Sandro Ferraz começa a se aperfeiçoar como cantor. Para ele, o Flor de Ébano, composto pelo Silfarney, o Tuta, o Marcelo Xavier (irmão do Kaubi que hoje está fazendo sucesso como músico em São Paulo) e o próprio Kaubi, foi uma grande escola. O cantor profissional surge do Flor de Ébano. Valeu muito os cerca de dois anos que Sandro Ferraz compôs o grupo, pois ali ele se aprimorou na arte de cantar e dar interpretação ao samba.
Mas, antes de alçar vôo na carreira de intérprete, Sandro Ferraz foi ritmista nas baterias das escolas Acadêmicos da Orgia, Bambas da Orgia e Imperadores do Samba.
Sandro Ferraz começou a interpretar sambas de enredo numa época de grandes nomes como: Paulão da Tinga, Medina, Dodô, Jajá, Cláudio Barulho, entre outros. Eram intérpretes gigantes e Sandro Ferraz jamais teve a pretensão de ser melhor ou maior que qualquer um deles. Pela expressiva qualidade destes intérpretes se tornava difícil entrar nessa seara. Foi quando o Menéca (intérprete da Bambas da Orgia), aconselhou o Sandro Ferraz dizendo: “Vai lá e mete tua cara!”.
Sandro Ferraz, em 1989, inicia sua carreira como intérprete de samba (puxador) na Mocidade Independente da Lomba do Pinheiro, ao lado de Jorge Pinheiro, Nego Edu e Marcelo Kará. Depois disso cantou na harmonia de Menéca, na Imperatriz Dona Leopoldina durante um ano. No ano seguinte, Sandro Ferraz foi cantar na harmonia da Bambas da Orgia. Um encontro inusitado aconteceu naquela época: a harmonia da Bambas da Orgia juntou Marcelo Xavier, Kaubi, Marcelo Kará, Gilson e Sandro Ferraz.
Depois disso Sandro Ferraz ainda foi compor a harmonia da Vila do IAPI, com Paulão da Tinga. Mas, é em 1993, na Filhos da Candinha, que Sandro Ferraz estréia no carnaval como primeiro puxador. No ano seguinte, retorna para a União da Vila do IAPI como primeiro intérprete, onde ganha seu primeiro Estandarte de Ouro, que na época se chamava Troféu Destaque do Carnaval.
Sandro Ferraz desfilou na Figueira e regressou, em 1997, para Imperatriz Dona Leopoldina, onde ocorreu o marco de sua ascensão como puxador.
Em 1998, Sandro Ferraz vai para a Imperadores do Samba, onde permaneceu por seis carnavais e ganhou seu primeiro título de campeão do carnaval de Porto Alegre. Entretanto, anos antes, em 1993, tenha sido compositor do samba campeão pela própria Imperadores, que homenageava Lupicínio Rodrigues.
Neste período surge o projeto “Só se for samba”, que reúne Gilson Dorneles, Nego Edu, Cláudio Barulho e Sandro Ferraz, que deu origem ao CD com o mesmo nome, que privilegiou compositores e intérpretes gaúchos.
Nos quatro carnavais seguintes, a partir de 2004, Sandro Ferraz vai defender as cores da Estado Maior da Restinga, sendo vitorioso em três campeonatos. Na Estado Maior, além de intérprete, também desenvolveu projeto social para jovens da comunidade.
Ainda neste período que permaneceu na Restinga, Sandro Ferraz lança seu CD “Tô morrendo de achar bom”, nome inspirado em mais um dos famosos bordões do sambista.
Aliás, alguns dos bordões de Sandro Ferraz são pronunciados na música, de composição de Leandro Antunes (Lelê) e Alessandro Antunes (Fofo), que dá nome ao CD: “Não calça sapato que não te serve”, “Tutufum agora é sério”, “Sou amigo até pra chorar” e “Tô morrendo de achar bom”.
Em 2006, Sandro Ferraz, comprometido com as causas de sua gente, se torna conselheiro no CODENE (Conselho de Desenvolvimento e Participação da Comunidade Negra do RS).
Desde 2008, Sandro Ferraz é o intérprete da Império da Zona Norte, tendo obtido o título de campeão. No mesmo ano de sua estreia na Escola, Sandro Ferraz é reconhecido por sua liderança e lançado candidato a vereança da capital gaúcha.
Esta é biografia de Sandro Ferraz: ritmista, compositor, cantor, sambista, carnavalesco e ativista social.
Sônia Corrêa (Jornalista – MTb 14.178)